sexta-feira, 13 de março de 2020

De Volta Para Ela - Lauren Gallagher



Aos 16 anos, Trevor está familiarizado com distanciamentos. Como filho de militar, de tempos em tempos ele tem de se afastar de suas amizades e formar novos laços em uma nova base, muitas vezes em um novo país.

Ainda assim, ele sente muita falta de seu melhor amigo Brad, que rompeu contato até mesmo através das redes sociais quando se mudou da base de Okinawa, quatro anos atrás.

Um dia, ele recebe um e-mail de Brad dizendo que está prestes a ir morar na mesma base onde Trevor está com sua família, na Espanha. A ansiedade é muito grande, mas ele ainda se questiona sobre o motivo de ter sido tão completamente excluído da vida do amigo que tanto apoiou no passado.

Por sua vez, Brad, que agora é uma menina chamada Shannon, tem muito medo de qual será a reação de Trevor, justamente porque ninguém do círculo social deles soube da transição e o meio militar pode ser tão unido quando fechado e conservador. Principalmente considerando que o pai de Trevor é o capelão e religião é um complicador nesse contexto.

Quando o reencontro finalmente acontece, muita coisa vem à tona, inclusive a paixão sufocada que Shannon sempre sentiu pelo amigo, mas que julgava impossível por ele ser hétero. Então a gente vai acompanhando como é a adaptação deles a essa nova versão de amizade e também quais são os problemas que uma pessoa trans e sua família podem passar em um meio tão pouco receptivo quanto qualquer outro, mas num círculo social em que as pessoas são obrigadas a conviverem, querendo ou não.

Para muita gente, a invisibilidade das pessoas trans é uma constante e pouco se sabe sobre essa realidade. Vez ou outra, alguma novela ou série aborda o assunto, mas ainda assim há muito desconhecimento e preconceito, acompanhados da dificuldade em reconhecer um semelhante e criar identificação com alguém que parece ser tão diferente. Afinal, é preciso conhecer para respeitar, entender para não se permitir assustar com a constatação de que transexualidade não é coisa de outro mundo.

Nesse sentido, o livro De Volta Para Ela, de Lauren Galagher, lançado em formato digital na Amazon e Kindle Unlimited pela Cherish Books, tem muito a colaborar. Isso porque traz, através de um doce romance entre adolescentes, a possibilidade de o leitor entender um pouquinho desse universo.

Narrado em primeira pessoa alternadamente pelo casal protagonista, o livro possibilita que Shannon, a menina que nasceu menino, seja vista por nós como amiga ou filha (dependendo da idade do leitor), alguém de cuja intimidade compartilhamos.

A história em si é bem simples, e o livro é curto e rápido de ler, o que significa que é um bom primeiro contato com o tema, embora as situações acabem sendo abordadas mais superficialmente para manter a leveza e fluidez da narrativa.

O assunto central é mesmo o amor que floresce entre Shannon e seu melhor amigo de infância, que agora a reconhece como uma garota. E acho que isso, o fato de tornar a transexualidade dela um fator importante, mas ainda assim secundário, é o que faz a gente olhar os personagens como pessoas comuns que estão apenas enfrentando, com a maior dignidade e empatia possíveis, uma situação nova para todos eles.

Você se identifica com Trevor, que está tão feliz em retomar a amizade antiga que acaba metendo os pés pelas mãos quando a revê e descobre que ele virou ela. Você aprecia os amigos, antigos e novos, que recebem Shannon de braços abertos. E dá graças aos pais dela por lidarem com a filha com tanto amor e abnegação.

Aliás, os pais dos protagonistas, principalmente a mãe de Shannon e o pai de Trevor, são um ponto forte do livro, porque são exemplos de como amor e tolerância superam tudo.

Minha única ressalva vai para o título escolhido na tradução. O nome original, Having Her Back, é um trocadilho impossível de reproduzir, porque significa ao mesmo tempo “dando apoio a ela” e “recuperando-a”. É um título maravilhoso, mas a tradução nem fez jus ao fato de que é Trevor que está toda hora falando sobre recuperar a amiga. Ou seja, não é ele que volta para ela, mas sim o contrário.

Enfim, tirando esse detalhe, é um livro que vale muito a pena.

Link para compra na Amazon

sábado, 12 de janeiro de 2019

Dom Casmurro por Brenda Souza




Resenha: Dom Casmurro
Por Brenda Souza

O livro Dom Casmurro, de Machado de Assis, foi publicado pela primeira vez em 1899 e conta a história da vida de Bento Santiago (ou Bentinho).
O livro, narrado em 1°pessoa, fala, a princípio, do amor entre Bentinho e Capitu durante a infância. Porém esse relacionamento tem como empecilho o fato de que Bento é predestinado por uma promessa da mãe a ser seminarista, então o casal passa a buscar saídas para tal situação.
Na segunda metade o livro, com essa questão já resolvida, passa-se ao relato da vida adulta de ambos, já casados um com o outro. Com o passar do tempo e muitas tentativas, Capitu engravida e dá a luz a Ezequiel, mas com o crescimento do menino, Bento começa a desconfiar da fidelidade da esposa.
Bentinho passa a ver grandes semelhanças entre o menino Ezequiel e o seu melhor amigo Escobar – que conheceu durante sua passagem pelo seminário – acreditando então que Capitu o traiu com o mesmo.
A obra termina sem nos dar uma resposta exata do ocorrido, deixando então a dúvida aos leitores que até hoje discutem se Bentinho estava certo ou era apenas um ciúme doentio.
Logo no início do livro, o personagem se descreve como um homem muito imaginativo, o que pode explicar uma convicção sem fundamento, já que Bentinho não tinha nenhuma prova concreta.
Muitos leitores também comentam sobre a forma como Capitu é colocada através das falas de outro personagem, algumas vezes, como uma mulher de caráter duvidoso, levando o leitor a crer nas paranoias do protagonista.
Também deve-se acrescentar que Bentinho sempre apresentou um ciúme exagerado, e só se sabe um ponto de vista do acontecido pela forma da narração.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

EM BUSCA DE ABRIGO - JOJO MOYES


Em busca de abrigo – Jojo Moyes

            No mínimo interessante. Já li quase todos os livros publicados de Jojo e só agora li Em Busca de Abrigo, que foi o primeiro livro escrito por ela. Seu estilo já se fazia desde então. Histórias profundas, com segredos de família de várias gerações, que resultam em conflitos e sentimentos atuais não explicáveis de cara.
            Em Busca de Abrigo fala de um abrigo muito mais profundo que uma casa, um lugar, um espaço. Busca um lar, um aconchego, um conforto físico e emocional.
            A autora tem como característica o entrelaçar temporal e o texto caminha sem se saber ao certo para onde nos levará, dificultando as adivinhações por parte do leitor.
            Mais uma vez, é possível conhecer lugares e culturas distintas. Hong Kong numa época distante, com hábitos e costumes diferenciados e, ao mesmo tempo, Londres e Irlanda mais atuais e muito diferentes, e os personagens transitando por esses lugares.
            Joy, uma jovem diferente do seu tempo, de poucos amigos, que não se encaixava em sua família ou no lugar em que estava: Hong Kong. Seguindo os costumes da época, ela tem um noivado rápido, um casamento com um homem quase desconhecido, uma vida nova em lugares novos.
            Kate, em Londres, com relacionamentos tumultuados com a mãe, com a filha, com a família e com os vários homens que marcavam sua vida
Sabine, por sua vez, é uma jovem com dificuldades de jovens, de se relacionar com pessoas e aceitar suas atitudes.
            Joy se transforma em uma senhora muito rígida, metódica, com muitas regras, portadora da capacidade de não demonstrar sentimentos por ninguém, somente aos seus cavalos e cães de caça. Cavalgar era seu melhor momento. Impossível alguém não querer e não gostar de cavalgar.
            Enfrentando os segredos que todos trazem no peito ou nas costas, ditando quem somos e porque somos deste ou daquele jeito. Segredos que nos endurecem, que nos fazem sacrificar contatos e, com isso, sermos julgados, na maioria das vezes, ,erroneamente.
            Jojo com essa narrativa, e como em A garota que você deixou pra trás ou A Última carta de Amor, nos fala nas entrelinhas que sempre há uma história que não conhecemos ou da qual fazemos parte e que faz toda a diferença no que pensamos de um ou de outro.

            Histórias que não podemos deixar de considerar para criar o tempo atual com mais leveza e entendimento. Acreditando que o Amor e os sentimentos escondidos ou camuflados podem aflorar a qualquer momento, mesmo nos momentos menos prováveis, como uma traição, doença e até a morte...

quarta-feira, 12 de abril de 2017

AS CORDAS MÁGICAS DE MITCH ALBOM

                                       
Resenha por Gláucia Guilhem




As Cordas Mágicas
Mitch Albom
Editora Arqueiro
350 páginas

Aquele rapaz e seu violão só precisam de alguns minutos para mudar a sua vida” (184)

As Cordas Mágicas é uma história no mínimo intrigante, onde o narrador é a MÚSICA. Esta acompanha cada um de seus eleitos do momento do nascimento ao fim de sua vida nesta dimensão, quando ela (música) está presente para pegar de volta seu Dom e transferi-lo a outro.

“A verdade é que todo mundo entra numa banda nesta vida. Mas só alguns tocam música.” (13)

Muitos dons quase se perdem por inúmeros fatores: guerras, vícios, poder, lugares, caráter; mas são acompanhados de perto pela MÚSICA, que tenta sempre fazer com que se desenvolvam e se espalhem pelo mundo.

“Em cada banda em que entrar, você vai tocar um trecho distinto e ela vai afetá-lo tanto quanto você a ela.” (20)

Francisco Presto nasceu em uma situação nada favorável, num momento nada oportuno e no lugar e hora errados. Nasceu sem mãe, sem pai, sem lar, sem expectativas, apenas com o Dom que lhe foi dado generosamente pela MÚSICA.

“Pode parecer altamente fortuito, mas quando um poder maior tem planos para você, a vida pode ser cheia de quase acidentes.” (86)

Salvo por um cão, que o acompanhará por muito tempo, chega à companhia de Baffa, um solteirão que pouco entende de criança, mas soube reconhecer seu dom e levá-lo até El Maestro, um músico de grande conhecimento, cego, sozinho, sofrido, carente e consumido por seu vício na bebida.

“O homem busca coragem na bebida, mas não é a coragem que ele encontra: é o medo que ele perde.” (101)

“De um jeito ou de outro, a banda se desfaz.”(86)

E Francisco descobre o Amor com Aurora, que quer dizer amanhecer, mas sua vida inteira será de altos e baixos e muitos baixos e baixíssimos.

“Francisco, a vida sempre vai arrastar você para o fundo” (258)

Francisco teve o tudo e o nada. Riqueza e pobreza. Verdades e mentiras. E a única presença constante em todos os seus dias foi a Música e o Amor de/por Aurora, que concorriam e habitavam seu coração.

“Elas (mulheres) são maravilhosas. Mas a música é minha senhora.” (185)

“A verdade é luz. Mentiras são sombras. A música é ambas.” (65)

A música trouxe a Francisco muitos amigos que o reconheciam como um fenômeno e ídolo, mas ele na maioria das vezes fugia destes e se isolava ou se escondia na companhia da música.
No decorrer do livro, estes amigos contam passagens com Frankie, contam quem era e por que estavam ali no seu velório para prestar as últimas homenagens.
E as decepções continuam...

“Não volte atrás a procura das coisas. Deixe quieto. Entendeu?” (274) 

Mas Francisco não entendeu muitas coisas. Não seguiu muitos conselhos recebidos de El Maestro, e com isso os caminhos foram surgindo e sendo seguidos até que chegou o momento de seu Dom ser recolhido. Depois de muito ser trabalhado e absorvido por toda sua difícil e instável vida.
O autor, Mitch Albom, utiliza de uma linguagem fácil, agradável, com algumas palavras técnicas da área musical, mas que não atrapalham o entendimento de leigos.
A história envolve o leitor como a música envolvia e movia Francisco e todos ao seu redor e como tudo tem um porquê, como nada acontece por acaso, o desfecho de cada acontecimento da vida de Francisco é sensacionalmente revelado por alguém inesperado, com uma pitada de fantasia mas que explica tudo.

“Você não pode destocar notas que já foram tocadas. O tempo é como a música: indelével.” (280)

domingo, 29 de janeiro de 2017

JARDIM DE INVERNO de KRISTIN HANNAH





JARDIM DE INVERNO de KRISTIN HANNAH

Resenha por Gláucia Guilhem

Este é o terceiro livro da autora Kristin Hannah que leio e a cada leitura confirma-se a competência, sensibilidade e habilidade para criar histórias envolventes.
A história tem como pano de fundo a 2ª. Guerra, assunto que para mim é fascinante, e tem como protagonistas três mulheres totalmente diferentes, ligadas pelos laços sanguíneos e distantes em um só caminho.
“Ela era uma mulher fria.” (pág.9)
Além delas, um pai amoroso, participativo e amado, que tentava suprir a distância e ausência da mãe presente.
“A mãe não as desprezava. Ela apenas não se importava com elas.” (Pág.29)
As irmãs crescem e tomam rumos diferentes. Uma opta pelo casamento, a outra pelo mundo, viagens, trabalho e talvez esta fosse a maneira de não sentir a falta do amor da mãe.
“A última coisa que queria era dar a alguém o poder de machucá-la.
A autopreservação era a única coisa que aprendera com a mãe.” (Pág.44)
Meredith casou jovem, formou uma família e resolveu cuidar dos negócios do pai, mas não se sentia feliz em Belye Nochi. Está em uma crise no casamento, mas não tem tempo para sentar e conversar.
“Como um alcoólatra que não estende a mão para o 1º. Drinque, um casal podia simplesmente não dizer a sentença que iniciaria a conversa. ” (Pág. 115)
E tudo vai sendo empurrado para baixo do tapete até que com a morte de Evan, o pai e marido zeloso e sustentáculo da família, as promessas de leito de morte evidenciam que algumas coisas terão que mudar e outras tantas vir à tona. E como entrar nessa história se não conheciam a mãe? Não sabiam nada... idade, data de nascimento, desejos, gostos.
“Sua mãe é mais fria que qualquer campo nevado.
Os invernos são duros para ela. Vocês duas têm que tentar mais. (Pág.28-31)
O que tiveram da mãe foram os contos. Contos que ouviam e amavam, pois “ é só nesta hora que ela fala com a gente” (Pàg.9) e através destes contos que o pai estimula as filhas a conhecê-la e entrar na sua misteriosa vida.
Triste vida. “ Vocês vão lamentar ter começado isso tudo.” (Pág. 305)
Kristin Hannah centraliza suas histórias em poucos personagens. As protagonistas são sempre mulheres fortes, com temáticas complexas e em muitos momentos reais. Angústias que também sentimos, dúvidas que nos bloqueiam, perdas que nos atingem em nosso dia a dia.
“Nós mulheres, fazemos escolhas por outros, não por nós mesmas, e, quando somos mães, nós... suportamos o que for preciso por nossas crianças.
Você vai protegê-las. Isso vai doer em você. Isso vai doer nelas. Seu trabalho é esconder que seu coração está se partindo” (Pág.287)
E depois de muitos anos, os contos, novamente os contos, as aproximam e trazem o conhecimento de quem é Anya Witson. “E as palavras importam.” (Pág. 270) e cada palavra e cada declaração da mãe explica muitos momentos das vidas de Meredith e Nina, o que faz com que tudo agora fique claro.
“Nós, soviéticos, somos bons para esconder coisas. “
“Eu tentei não amar vocês duas.” (Pág. 305)
E quando você acha que conheceu tudo e agora está tudo às claras, surge o inesperado, as surpresas que a vida sempre tem na manga e mostram que podemos ser mais fortes do que pensamos.
“Precisei de  todas as forças para não chorar. As lágrimas agora são inúteis em Leningrado” (Pág.342)
E “A perda é uma dor surda no peito, algo que segura a respiração “, inclusive do leitor que segue até a última página com essa respiração suspensa, com vontade de enxergar os olhos claros e sem possibilidade de ver cor de Anya, para entender que toda atitude tem uma história a ser descoberta. Que todo amor sentido pode ser sufocado pela neve do Jardim de Inverno, mas sempre haverá o Jardim de Verão para desabrochar.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

RESENHA DE CAPITÃES DA AREIA, POR LUCAS DAVI

Colaboração do aluno Lucas Davi Affonso


O livro Capitães da Areia é um romance escrito em 1937, por Jorge Amado, e retrata a vida das crianças que moram nas ruas e suas dificuldades para sobreviver. 
Apesar de relatar assuntos da sociedade na década de 30, a história continua atual, falando sobre problemas sociais que ainda afetam nossa realidade. 
No ano de seu lançamento, o governo de Getúlio Vargas queimou os primeiros exemplares em uma praça de Salvador-BA, declarando que o livro disseminava ideologias contrárias ao país. Em 1944, Jorge Amado publicou uma nova edição, a qual foi bem recebida pela sociedade, e, a partir de então, seu nome ficaria marcado no ramo da literatura e nas artes do mundo inteiro.
O enredo gira em torno do grupo comandado por Pedro Bala, um menino de quinze anos que ganhou o direito de liderança após uma briga, passando a ser uma espécie de pai para os outros garotos. Ele tinha a autoridade necessária para liderar o grupo, agilidade e, acima de tudo, tornou-se um exemplo para aqueles meninos. Outras figuras importantes para o grupo são o Professor e Dora. O Professor era uma luz na escuridão, pois ele lia histórias, trazendo para a realidade de todos a fantasia que só existe em livros. E com Dora todos ganham amor e muito carinho. 
Jorge Amado retrata, de modo geral, um ambiente de alegria perante as circunstâncias hostis e precárias pelas quais eles passam, e também as muitas aventuras em busca do melhor para o grupo.
Com uma linguagem modesta e de fácil compreensão, Jorge Amado se aprofunda mais em um assunto polêmico, criticando o governo e até mesmo as igrejas preconceituosas. Ele consegue deixar o leitor instigado a ler cada página, torcendo por melhorias nas condições do grupo.
Na minha opinião, Capitães da Areia é um ótimo livro, em que o autor faz críticas importantes e coerentes à sociedade. Para quem está em busca de novos pensamentos sobre os verdadeiros motivos das desigualdades existentes nas vidas dessas crianças, tão estereotipadas e marginalizadas pela sociedade, esse livro vai ajudar. O sucesso dele é reconhecido até hoje, pois os problemas sociais das crianças são atuais e a população precisa enxergar o que está acontecendo, relatando e pedindo explicações para as autoridades.





sábado, 20 de fevereiro de 2016

FORMATION DE BEYONCÉ, POR KARINA ROCHA

Um texto de minha ex-aluna, agora amiga e colaboradora, sobre o fantástico e polêmico hit de Beyoncé.  



   
             Parem de atirar em nós!
                     - Formation -

A música pode ser considerada a forma de arte mais popular e influente do mundo, trazendo consigo mensagens que atravessam gerações, executando um papel essencial na cultura universal. Por ser essa poderosa forma de expressão que monopoliza atenções para o mercado fonográfico mundial, por muitas vezes torna-se ferramenta de protesto e desabafo, tal como durante o período da Ditadura Militar, e no início do mês, quando foi usada de forma grandiosa, ousada e politizada por ninguém menos que Beyoncé.
Sendo a artista negra mais influente do cenário musical contemporâneo, a Queen B, como é conhecida pelos fãs, foi por diversas vezes criticada por sua falta de posicionamento em relação a temas controversos e políticos, mais precisamente o racismo. No entanto, com "Formation" presenciamos o nascimento de mais uma grande figura ativista em prol da causa negra americana e mundial.
Beyoncé celebra como nunca antes sua identidade afrodescendente, nos presenteando com um clipe crítico, que traz inúmeras referências ao contínuo extermínio de jovens negros pela polícia americana, ao tempo da escravidão, ao eterno ativista Martin Luther King, ao assassinato de Messy Mya, um artista negro morto em 2010, à segregação racial e até mesmo ao furacão Katrina, que deixou milhares de pessoas, dentre elas os muitos negros que compõe a população de Nova Orleans, abandonados e desabrigados.
Abusando de sua natural e poderosa postura feminista, Bey questiona, afronta e dá uma verdadeiro tapa sem luva no conservadorismo branco, como sal na ferida. Mas não foi o suficiente, ela precisava externar sua mensagem há tanto reprimida no maior evento esportivo americano, o Super Bowl, e como externou!
Ela estava lá, roubando a cena de forma incisiva, expondo corajosamente a todos que, mesmo alcançando o topo do mundo, nunca esqueceu suas origens. O vídeo, a letra e a coreografia apresentada no Super Bowl abraçam sua herança escravocrata, celebram e exaltam seus traços negros e relembram heróis da causa negra, como Malcolm X e o grupo Panteras Negras, que defendia os jovens negros da violenta polícia na década de 60.
Beyoncé deu a cara a tapa e se tornou motivo de orgulho para todos os negros espalhados pelo mundo, que há muito não eram defendidos e representados de forma tão grandiosa e digna. Formation deu voz há uma causa que que se encontrava calada e oprimida, como sol tapado com uma peneira.
Utilizando a música de forma brilhante e ousada, a rainha negra gritou aos quatro ventos que a luta pela igualdade continua, e que ela não irá mais se calar!

Para você conhecer ou rever: